Se nenhum amor dura pra sempre, nenhuma dor também .

Se nenhum amor dura pra sempre, nenhuma dor também .

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Se fosse amor.


Não era o que queríamos que fosse. E muito menos foi, o que desejávamos que se torna-se. Luxúria, versus sentimento. Corpo contra coração. Nenhum vencedor, de algumas batalhas, e inúmeras afrontas. Por esta razão, onde nos encontramos no mundo e nos perdemos na vida, atesto: não era amor. Não tinha vocação para este volver; nenhuma. Era muita vontade de um lado, contra desmerecimento do outro. Um caso, contra um descaso inteiro. Enganou por certo tempo, mas podendo avaliar melhor, de longe e com olhar crítico, tenho cada vez mais certeza: foi uma ilusão. Um amontoado de desculpas esfarrapadas, colocadas no lugar mais alto do pódio. Uma patologia. Uma eterna confusão. Porque se fosse realmente amor, nada disso seria em vão.Se fosse amor, não teria planos descabidos, e promessas quebradas. Não caberia casualidade, e sim, uma dose nobre de veracidade. Manhãs despertadas com beijos despudorados, e vontades pré-aquecidas. Almoços de última hora, e lampejos de idéias fantásticas, teses descobertas, e movimento constante. Emoção intensa, e não paralisia corriqueira. Pique-niques no parque, silêncios confortáveis e surpresas no final do dia, seriam inevitáveis. Infelizmente, afeição é muito mais do que apenas ligações oportunas, e noites quentes; medo de descobrir o outro tão à fundo, e esquecer o caminho de volta à si mesmo. Afeto tem muito mais a ver com dois telefones desligados, e um mundo próprio em conjunto, sendo criado dia após dia, sem longas esperas e sumiços efêmeros. Com muita vontade, e compartilhamento de vidas. Alguns mistérios, pra não ficar demasiado corriqueiro. Gentilezas sob o pé da cama, e uma flor atrás da orelha. Admiração mútua, e conversas intermináveis; com algumas pausas, frases pela metade e palavras de conforto e carinho. Seria o tempo bem aproveitado, e batalhas apoiadas um pelo outro. Metas traçadas, e atitudes em prática. Cada qual com seu caminho, porém com apoio incondicional; duplo e dulcificante. Amor é dois, e não um. Nunca três. Duo, e não trio. Nós, e não eles. Se fosse amor, haveria integridade. Segurança. Cumplicidade. Quando na verdade, tudo não bastava de um sonho; algumas palavras bonitas, e momentos antes únicos. Sorrisos singelos, e que na verdade, escondiam todo um mundo de meias-verdades, de mistérios desenfreados, agora então arejados. Você gostaria tanto do meu mau-humor matinal, quanto do meu porte graúdo, e eu seria fiel admiradora da sua inconstância infindável e seus cabelos rebeldes. Acharíamos um charme, todo e qualquer pequeno defeito - que era assim chamado, porque amor entre nós não havia. E quando sentimento não há, falhas são apenas falhas; defeituosas e abismais. Talvez se as afinidades fossem maiores, o coração talvez acordasse. O meu tão grande, e apressado, correndo contra o tempo. O seu tão clandestino e amoral; diminuto. Desiguais, e ainda assim, desacordados. Desencaixados. Mas no meu detalhismo excêntrico, em ler tudo que me passa pela frente, e escrever como quem vomita o que tem por dentro e na sua leveza de viver, e se viciar em seriados - enquanto eu mesma prefiro filmes - ficava difícil encontrar um denominador comum, frente à tantas, e gritantes diferenças. Simplesmente porque de amor, essa história não tinha nada. Apenas uma saudade que perdurava aqui, e não ecoava aí, do seu lado de ilha solitária, que é a vida cabalística a que nos submetemos. Não foi amor. Foi uma hombridade esquecida, uma homogeneidade inexistente, uma angústia ambulante. Algumas corridas de táxi, e um brio acelerado. Um ritmo nunca acertado, notas desordenadas e descompostas. Apenas uma alergia à completude e um temor da felicidade. Uma fuga antes do tempo exato. Muitas palavras, quando o melhor era sair com a cabeça erguida (mesmo quente), e a boca cerrada. Erros, não só de execução, como de partida. Anomalias amáveis, e um crime irresistível de não cometer. Vontade de acertar, e pouca força para alcançar o topo, o feito. Desatino. Se fosse amor, obrigatoriamente, singular seria. Porque não é, e esperei que fosse. Que houvesse no mínimo coragem, ou alguma força maior por trás dessa adrenalina toda, para transformar. Paixão, quem sabe. Paz, não vi. Sair do que não existiu, deixa sempre a pulga atrás da orelha, de como seria se tivesse então deslanchado. O que vale é se lembrar sempre, e cada vez mais que, se não aconteceu, teve motivos suficientes para ficar adormecido. Que assim seja, e as lembranças boas não se percam por entre dias frívolos e cinzentos; perpetuem apenas na memória, e acrescentem como aprendizado.

- Camila P .

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

espero .



Se quer me ver tensa, nervosa e ansiosa, diga apenas um verbo, e sete letras: esperar. Uma ligação, confirmação, algum resultado, numa fila, ou num banco da praça. Nada me deixa tão louca e fora de mim, do que esse tempo que se prolonga, e parece não passar nunca. Passa, eu sei que passa, porém enquanto meu pensamento se bloqueia numa só esperançosa ação, viro quase obsessiva. E nem me adianta dormir, praticar algum esporte ou tentar fazer tricô. De repente, volta à mente aquilo que fingia ter esquecido, e me vejo tirando com a boca a cutícula, tremelicando a perna ininterruptamente e mordendo de leve o lábio, que é pra ver se o corpo se ocupa, e a mente se distrai, o mundo se aquieta. Orgulhosa de mim, e do meu feito em permanecer calma e complacente, serena e harmoniosa por dias e mais dias, eu sabia que não duraria muito. Explodiria, como bomba-relógio escondida no peito, essa paz acumulada em palavras, que é como quase sempre acontece, no meu roteiro. Não posso ir guardando opiniões, sentimentos e frases premeditadas, que quando escorro, de nascente se faz rio; é uma enxurrada. O que me doía então, era esse não saber de coisa alguma - e ao mesmo tempo, achar saber de tudo. Essas promessas de volta perfeita, e de ida saudosa. Que no fundo sabemos que nem vai acontecer, mas alimentamos qualquer centelha teimosa, que insiste em não se propagar de uma vez. As pessoas espantadas, com a minha calma e complacência, toda essa comodidade que nunca foi minha, e que era apenas tatuagem temporária - bonita enquanto durou, mas que foi saindo de mim, e dando espaço à minha real inquietude. Então, como quem aguarda o ataque, eu espreitava a hora certa de atacar. Adiantada como me é rotineiro, dei o bote antes da temida hora certa, e como sempre, deixei vir à tona toda e qualquer verdade, que andava em mim submersa. Foi libertador? Foi. Necessário enquanto pode, e suntuoso, quando ainda era real. Agora talvez se entorne em ser passado, e me resta não pensar demais, pra não endoidecer, de vez. Sair, e aproveitar a vida. Em alguma noite, qualquer festa, no shopping ou no calçadão. No frio desse inverno rigoroso, ou enquanto a primavera adentrar. Na fila, que é pra onde volto, depois de tanto tumulto e algumas lições: na linha indiana, de quem merece alguma sorte e um tempo final de descanso, que é pra onde volto com alívio e alguma paciência restante. Que não demore, apenas isso - esperar cansa, aguentar o tédio é tarefa para doentes. Daqui a pouco surto, e é só esperar o vulcão que aqui já entra em erupção. Aleluia!


- Camila P.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010



   "Cada vez é uma primeira vez.
Mas aquela foi mais primeira do que todas as outras."



- Lya Luft.
"... Ainda pensou: gosto tanto de você, baby. Só que os escritores são seres muito cruéis, estão sempre matando a vida à procura de histórias. Você me ama pelo que me mata. E se apunhalo é para você, para você que escrevo - e não entende nada."


- Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Que brilhe, aonde estiver

 
O milagre que esperei, nunca me aconteceu.
Quem sabe só você pra trazer o que já é meu.
Brilha onde estiver, faz da lágrima o sangue
Que nos deixa de pé.
Brilha onde estiver-O Teatro Mágico




Se eu te disser que não tem mais nada aqui dentro, você acredita? Não, não dentro da casa, do quarto, é muito mais do que material. É bem mais fundo, compreende? É no coração, e pra enxergar o coração é preciso ter tato: chegar de mansinho, acariciando com as pontas dos dedos pra não dar medo, pra não assustar. Mas é claro que coração se assusta, como não?! O meu, por exemplo, é arisco feito bicho do mato. O que eu tava falando do vazio? Ah, é assim: tá tudo vazio por dentro. Parece que nada mais respira, nada mais palpita no peito, morreu o que vivia no coração. Tinha, tinha sim coisa viva aqui dentro. Porque se quando ele me abraçava eu perdia o rumo, se quando ele falava "amor" eu fingia que não escutava só para ele repetir "amor, amor, amor" baixinho cada vez mais perto, existia sim a tal da magia. E olha só, era até engraçado pensar que eu ia acumulando as experiências de todo o dia, mirava bem os olhos tipo máquina fotográfica só para contar para ele no fim da tarde. Só para ver se ele acharia tanta graça quanto eu achava. Se ele ria? Nem sempre, às vezes só falava "boba, só você pra rir assim de uma coisa dessas", e aí eu deixava cair a cabeça no ombro nem tão forte dele, e ria mais ainda, ria até doer a barriga. Ele ria da minha risada, e aí ficava um clima meio sem rumo no ar, a coisa mais linda do mundo, você precisava ver. Ah, sim, era bonito rir com ele, sim.
Os amigos? A gente tinha muitos amigos em comum, e quando escutávamos algum absurdo relevante de um deles eu apertava forte a mão dele, que me dava uma piscadinha disfarçada. E mesmo sem tera ver com o momento, era bom apertar aquela mão e saber que ainda estava ali, que correspondia. O que? É, eu fico meio boba mesmo de lembrar dessas coisas. É quase como crescer. Mas é claro que tem lógica nisso, sim. Vou te explicar: quando a gente é criança e cresce, dá uma saudade boa de quando era pequeno. Algumas situações deixam um buraco no peito, mas é diferente da vontade de voltar atrás. Entendeu? Não? Ele me deixou um vazio tão grande por dentro, sabe? Me deu muitas coisas, sim, mas parece que levou todo o resto e só deixou um mar de saudade e eu ilhada no meio. Voltar atrás? Não, não. É aí que entra aquela parte: eu sinto muita falta, mas com o tempo a gente aprende a identificar quando chega o fim. Eu sei que chegou, porque não pulsa mais, sabe? Fica só essa saudade-do-que-já-foi por dentro, feito bexiga cheia que só ocupa espaço com um nada feito de ar dentro. Na cabeça, no coração. Tudo bem, é difícil entender, mesmo. Se eu amei? Ah, eu amei sim! Do jeito torto mais maravilhoso que pode existir, da maneira errada que mais faz brilhar os olhos. Era torto, sim, eu sabia desde o começo que não tinha pé nem cabeça tudo aquilo, mas as coisas não precisam ter sentido pra fazer a gente feliz. Sabia disso? Pois é, as coisas que menos tem razão de ser e acontecer são as mais gostosas.
A gente era feliz, e muito. Por que acabou? Eu queria saber te responder isso, sabe. Não sei, acho que chega um ponto que as coisas tortas começam a cruzar demais os braços, bambear demais, cair muito. Tombo pode até parecer divertido no começo, faz parte. Mas depois a gente percebe que muito tombo machuca, e o que tinha graça já não tem mais. Se ainda tem magia? Tem sim, mas é uma magia que enfraquece com o passar dos dias - e a cada manhã brilha menos. É, é triste sim. Mas ainda fica aquele restinho grudado no coração, sabe? A gente assopra, mas os farelos ficam nos cantos escondidos. Se um dia passa? Acho que passa, mas fica manchado pra sempre, sabe? Mas como uma coisa bonita, uma coisa leve. Por que dói? Porque a gente sente falta do espaço vazio que fica no coração. Antes tinha tanto calor aqui dentro, tanto carinho que sumiu de hora pra outra. Mas saudade é assim mesmo: dói vezenquando. Hoje dói, sim. Dói ardido, uma mão espremendo meu coração. Vai, vai passar sim, daqui a pouco. Em breve, espero. Que o que ele tirou de mim, volte em qualquer tipo de amor por aí, em qualquer coisa corriqueira mas bonita que deixe marcas. Que conforte a mim e a ele, entende? Vou te contar uma frase do Caio Fernando Abreu, aquele que eu adoro, que resumiria tudo: "hoje existir me dói feito uma bofetada".




- Clarice L.

sexta-feira, 16 de julho de 2010



Tô esperando o dia que isso vai passar. (...) Tô esperando acabar, passar, morrer, sangrar até o fim. Esperando o tempo que acalma chamas com seus ventos de mil pés distantes. Esperando alguém que ocupe, distraia, desacorrente, solte, substitua, torne nada demais. Esperando não sentir mais ódio e nem tesão e nem ciúme e nem saudade. Esperando porque é o que resta mesmo, não é falta de coragem, não é de se fazer, é de se sentir e só"

-  Tati B.
Minha vontade agora é sumir. Chamar você. Me esconder. Ir até a sua casa e te beijar e dizer que te amo e que você é importante demais na minha vida para eu te abandonar. Sacudir você e dizer que você é um otário porque está me perdendo dessa maneira. Minha vontade é esquecer você. Apagar você da minha vida. Lembrar de você a cada manhã. Pensar em você para dormir melhor. Então eu percebo: IT’S ME, e minhas vontades são bipolares demais. Só o que não é bipolar demais é a minha ganancia por te ter. Sim, eu escolheria você.



- Tati B.